1. |
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No altar maior daquela loja está de pé este profeta
que arremessa suas palavras, tão exatas
Ele fala em belo tom de cibernética
Diz que já estamos na era futura, embora seja absurda
Ele fala em belo tom de primavera
E mesmo assim a morte, a solidão, a fome e a ignorância
com seus dedos nos alcançam todo dia de manhã
até a hora de partir
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2. |
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FATO: todo dia uma notícia temperada com malícia
no sorriso do apresentador:
“AS TRAPALHADAS DO IMPERADOR”
Escuto risos e aplausos
Só não escuto quebra de vidraças
O fogo nos carros
O cheiro de fumaça
Não vou mentir: me gusta la paz
Não vou fugir se a guerra se aproxima
Em cima da mesa a pátria jaz
Irei comê-la sem açúcar nem sal
Depois, indigesto, passarei mal
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3. |
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Morto estrangulado pela mão invisível do mercado
É verdade, não é imaginário
Será que ninguém poderia imaginar
o que veio a ser e o que virá?
Oxalá venha o sol mais uma vez
e eu vá fazer o que não fiz
Ninguém me diz o que devo fazer
Vou ter que encontrar sozinho uma saída
Aí eu te pergunto: é possível segurar a mão amiga
e ir além?
Pensei e uma propaganda apareceu
A onisciência do mercado-deus codificada pra dizer o que preciso
antes de eu mesmo saber
“Dez parcelas sem juros de satisfação!”
— Quero mesmo segurar aquela mão?
Toda semana um episódio novo da mesma velha história
É gostoso lamber a memória
Confortável só sentar e assistir:
as ruínas do país,
uma inflamação no siso,
crime e corrupção
Se é real ou ficção já não importa
Sólidos perfeitos em dimensões mais altas se projetam no trivial tridimensional
Sumé, Orfeu, Hermes Trismegisto
Raspando o real igual o cristo
Chegar perto e achá-lo divino
Porém, nada mais que bicho
Difícil perceber, difícil entender
Bicho de tocaia, à espreita no mato
A gente cria as ideias e delas somos criados
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4. |
Machina Fatalis
02:37
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Será que agora as coisas elas vão mudar?
Preciso ver o que irá modificar
Eu escutei você mas acho que não entendi
Nunca pensei estar errado ou algo assim
Eu penso que talvez não haja solução
O que posso fazer enquanto reles indivíduo
diante da máquina?
Poderá um asana ou uma canção?
Poderá um quadro ou um romance?
Poderá um beijo, um toque
ter alguma chance perante a monstruosidade agroindustrial?
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5. |
Em Busca do Fim
01:37
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Os artistas mais brilhantes, as mentes mais geniais
Os heróis da causa popular da terra onde nasci
Tentando inventar, criar, transformar, melhorar o Brasil
Mas nós queremos que o Brasil acabe
Centenas de nações precisam que o Brasil acabe
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6. |
Canto de Guerra
02:35
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Todo dia uma nova agressão
É tão cansativo se viver assim
Não é mito nem opinião
Preste atenção no que digo aqui
Na periferia do capitalismo
é nos empurrado todo tipo de lixo
Num longo processo de etnocídio através do racismo
Abre o olho bb, diga que não rola mais
Cruze a linha bb, sem olhar pra trás
Agora é fogo e fumaça pra recomeçar
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7. |
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8. |
Morrer Feliz
05:08
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Esta é a história de um triste rapaz que vendeu sua alma por sobrevivência e simples prazeres cotidianos. Em uma bicicleta alugada ele atravessa a cidade fazendo entregas para o aplicativo de comida…
Sempre a rodar pra fazer render
Não dá pra parar nem para comer
Pisa, cuida, dale!
Pensão atrasada, cerveja gelada, ingresso do baile
Pisa, cuida, dale!
Aluguel vencido, o gás acabando, o fumo tá caro
Sempre a subir para ir além
Pois morrer feliz ele quer também
Pisa, cuida, dale!
O pescoço coça, a corda aperta, o preço é alto
Pisa, Cuida, Dale
A cara no asfalto, a roda amassada, foi atropelado
Estava veloz sobre o acostamento, o carro bateu de propósito
Voou cinco metros, o cara do carro fugiu foi embora
Então ele viu!
O seu celular caído no chão
Na película, nenhum arranhão!
Ele tentou reunir forças para pegar o celular. Seus braços, porém, não se moviam. Tomado por uma dor excruciante, fechou os olhos. Uma escuridão profunda tomou conta, até que uma tênue luz azulada foi surgindo, aumentando aos poucos, preenchendo tudo. Era a tela do celular, que de alguma forma se conectou à sua mente! E assim ele conseguiu acessar suas redes sociais. “Estou salvo”, pensou contente.
Quem vai comprar? Quem é comprado?
Quem vai acessar? Quem é acessado?
Quem vai assinar? Quem é assassinado?
Sempre a cair, nada a fazer
E sendo feliz, nos resta morrer
Pisa, cuida, dale!
A máquina gira, é vida que segue, já cantou o galo
Pisa, cuida, dale!
No primeiro pedido é tudo de graça ou pela metade
Seis pedidos de sushi atrasaram naquela noite fria. Os comentários negativos no aplicativo preocupam o dono do restaurante. Após duas horas de espera uma mulher já sem muita fome recebe sua entrega. Ela sorri.
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9. |
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Quando eu encontrar você será o fim do mundo ou o fim do mês
Talvez a gente dance nas ruínas e nada mais faça sentido
Não é deus nem é castigo
Talvez a revolução das meninas
Um banho de sangue inundando a capital
Morrem as revistas
Queimam os fascistas
As pessoas riem via rede social
Um banho de sangue de coletor menstrual
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Streaming and Download help
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